Spiral architect
Já não sei mais onde estou. Mesmo que soubesse, não faria diferença. Tanto faz o que vier e ainda assim eu não quero estar aqui. As palavras saem sem que eu pense nelas. As vezes tento prestar atenção no que estou dizendo, mas perco o interesse em seguida. Fecho os olhos, sinto que ela está por perto, dando voltas, me olhando. Não sinto medo dela, mas do que vem depois. Ignoro, continuo a vomitar palavras enquanto penso que eu não quero continuar. Ela se aproxima, encosta no meu braço, eu continuo a fingir que não a notei. Ela sorri e fala próxima a meu ouvido. Seu hálito é frio, eu começo a tremer. Sei que não posso cair no seu jogo. Tento quebrar o ciclo, vou lá fora tomar um ar. Ela está me esperando, e agora estou sozinho. Meus pensamentos trombam uns nos outros e eu continuo a ignorá-la. "Você não pode me ignorar para sempre". Não posso. Me sinto ansioso. Me sinto pressionado. "Isso, vem". Não posso. "Não segure o que você está sentindo". Preciso ser forte. Quero sair dali, voltar para dentro. Meus pés não obedecem. Ela sorri próxima a meu rosto. Um sorriso cheio de marcas, desagradável, e ao mesmo tempo confortável. "Isso, relaxa". Sinto frio. Me sinto abandonado. "Isso, deixa vir". Ela gira ao meu redor, mais perto, mais rápido. "Sentiu saudades?". Não, não senti. Mas a conheço melhor do que eu imagino. Não quero. Preciso lutar. Ansiedade. Stress. Cansaço. Apatia. Ela me abraça. "Shhhh, sou eu...".
Eu a abraço de volta.
E começo a chorar.
Ela me pegou.
(Escrito em algum momento entre 2010 e 2012)