Pinturas rupestres no fósforo verde...
...e uma coisa que eu fiz lá no começo que eu ainda recomendo.
Não sei se isso é surpresa para alguém que está lendo, mas sou programador de computadores. Os anos passam, os nomes se tornam mais complicados e compostos, a quantidade de reuniões aumenta, mas, no fim do dia, sou um programador de computadores.
O que talvez surpreenda alguns é que, no ano que vem, completo trinta anos desde que escrevi minha primeira linha de código. Não me lembro exatamente qual foi ou o que senti, mas provavelmente foi um "Olá, mundo" em uma linguagem paleolítica chamada QBasic.
O que lembro daquele tempo é que eu tinha duas aulas semanais de “Técnicas de Programação”, cada uma com cinquenta minutos de duração. Metade da classe ficava na sala de aula para aulas teóricas, enquanto a outra metade ia para o laboratório para colocar o conhecimento em prática nos terminais burros de fósforo verde.
Terminais burros eram conjuntos de monitor e teclado, sem CPU e muito menos mouse, conectados a um único computador, o servidor. Eles compartilhavam a mesma memória e o mesmo disco; quanto mais pessoas conectadas ao mesmo tempo, mais lento ele ficava. E ficava muito lento mesmo.
Já o fósforo verde era o material usado para fazer os pontos na tela brilharem, sendo a única cor disponível. Não havia gráficos, não havia mouse, era puro texto verde brilhante.
Então, imagine que todo o contato que eu tinha com programação prática acontecia nesses cinquenta minutos por semana. O tempo de computação naquela época, pelo menos para mim, era absurdamente caro. Nesses cinquenta minutos, eu precisava fazer a lição da semana e, em seguida, realizar qualquer experimento que eu tivesse em mente, desde que fosse discreto o suficiente para que o professor não me chamasse a atenção nos minutos finais. Não dava para ficar pensando muito sobre o que fazer ali na hora.
Eu carregava uma agenda antiga como se fosse um caderninho de anotações. Eu escrevia muitas bobeiras ali; era um adolescente tonto como quase todos os outros. Mas também usava o caderninho para anotar ideias sobre o que programar e escrevia muito código numa mistura de português com QBasic, para que, ao chegar no computador, eu apenas digitasse o mais rápido possível e pudesse ver minha criação funcionando.
Foi assim que criei um hábito que me ajudaria pelo resto da carreira: rabiscar antes de encostar no teclado.
Sei que parece antiquado, e já vi gente nas redes sociais criticando o uso de papel e caneta para programar. Mas o ponto é que me habituei a buscar uma solução para o problema de uma forma que eu conseguisse reproduzir manualmente, tendo total clareza do que precisava fazer. Também sei que nem toda situação permite isso, que muitas vezes é necessária uma descoberta, ou que o problema exige um grande poder computacional para ser resolvido, mas eu nunca resolvi um problema batendo aleatoriamente no teclado, como na história dos infinitos macacos e suas máquinas de escrever.
Desde então, também trabalhei como gestor de equipes, e um dos problemas mais comuns, principalmente entre os mais novos, era que o profissional simplesmente recebia a tarefa e já saía executando, sem entender o que deveria ser feito, o impacto que aquilo poderia causar para o negócio e, muito menos, qual era a motivação. Essa pausa para rabiscar ajudava muito no entendimento do problema antes do início da execução.
Atualmente, ainda mantenho um caderninho ao meu lado, onde faço alguns rabiscos e diagramas. Isso me ajuda muito a tornar as ideias claras, a ponto de eu ser capaz de comunicar exatamente o que precisa ser feito, tanto para mim quanto para o restante da equipe.
Então, por esta semana é isso. Pode ser que funcione para você, pode ser que não, mas pensar antes de fazer e ser capaz de explicar o que vai ser feito geralmente é um bom diferencial entre um profissional mediano e um macaco em uma máquina de escrever.