Meu pai inventou de me dar um nome diferente. Tem lá suas origens no Latim e significa “pleno”, “completo”, “cheio”. Nunca me senti pleno nem completo. De cheio, talvez o saco, falando de forma figurada.
Minhas tias nunca acertaram meu nome. Era Prímio, Prínio, Prinho e por aí vai. Um dia, na Praça da Sé, achei que um jornaleiro tivesse me chamado pelo nome. Voltei e lá e perguntei do que ele me chamou. “Brimo. Você não é brimo?”. Além do nome diferente, também tenho cara de árabe. Sírio, segundo me disseram na Suécia. Sorri. “Salaam, brimo”, e vida que segue.
Um dia estava passeando por um desses muitos pontos turísticos do Nordeste e fui abordado por uma moça com uma prancheta. Queria saber meu nome, telefone, quanto eu ganhava. Vontade de dizer que a única coisa que eu ganho é motivo para ficar puto, porque o resto é bem brigado para conseguir, mas ela estava trabalhando, estava calor, Sol, a última coisa que qualquer um precisa é de um sujeito resmungando.
“Qual seu nome?”. Pensei em inventar um, mas disse a verdade. “Mênio? De que?”. “Isso”, respondi. Como não há nada tão ruim que não possa ser piorado, ela ainda completa: “Mênio Silva, certo. Então, seu Mênio…” e começa a tentar me vender não lembro o quê. Eu ainda estava surpreso e pensativo quanto ao Mênio.
Ao sair dali, a companheira me pergunta por que eu não corrigi a moça. Tanto faz, respondi dando de ombros, ninguém acerta meu nome mesmo.
Antes mesmo de chegar em casa, eu já era o Mênio. Agora sou Mênio nas agendas dos celulares dos familiares e dentro de casa. É estranho, mas gosto. Às vezes até sai um trocadilho a respeito. Mênios é mais. Mênios mal.
O Selton Mello também tem um nome diferente, mas como a voz dele é melhor que a minha e os pais são do mundo artístico e os meus não, talvez demore um pouco mais para fazerem um filme com meu nome. Ou com aquele que não é meu nome.